Lâminas de sobrevivência estão entre as polêmicas mais discutiras entre os praticantes de atividades onde sua aplicação pode vir a ser posta a prova.
Isso mesmo, pode vir a ser, porque a realidade é bem menos sinistra do que parece.
O estudante de técnicas de sobrevivência tem a tendência óbvia de se preparar antes de suas atividades corriqueiras, e este preparo envolve o estudo teórico e prático bem como a aquisição de itens que compõe seu kit.
Quanto mais preparado, menos chances tem de ser subjugado por uma situação adversa, é como um jogo, onde as dificuldades teóricas são apresentadas e o sobrevivente aplica meios, recursos e itens para anular ou modificar a situação, algo como : Para frio extremo use cobertores aluminizados, para fazer fogo em áreas úmidas use iscas especiais, para purificar água use cloro, etc, ou seja assim que detectada uma ameaça, procura-se uma solução. As ameaças são captadas de situações corriqueiras, relatos, experiências pessoais, autores independentes, fóruns, manuais e até programas de TV. Já as soluções, via de regra são extremamente diversas e variam de autor para autor.
Por isso é bem comum ver um mesmo tema, ou melhor, uma ameaça específica ter várias soluções apresentadas. Técnicas para se fazer fogo ilustram bem o que digo, cutelaria também.
Todo estudante de sobrevivência sabe que independente do quão preparado e bem equipado você esteja, ainda é suscetível a uma infinidade de contratempos que ainda não foram "listados", ou seja, uma ameaça inédita, e para estas ameaças lançam mão de improviso, gambiarras, conhecimento local, criatividade, vontade de superar e viver, ou seja, fatores pessoais que não podem ser medidos ou sequer comparados e que por sí só definem os caminhos e até o estilo do usuário e suas ideias de sobrevivência.
Vejamos um praticante de bushcraft primitivo com experiência, extremamente minimalista em equipamentos acredita poder encontrar recursos naturais para prover suas necessidades, embora ainda não contestem a regra geral de uma lamina bruta como ferramenta de sobrevivência como ideal, preparam -se para o extremo, treinando o uso ancestral de pedras lascadas como ferramenta de corte. Chegamos ao ponto onde a capacidade de fazer cortes é o importante, e qualquer faca, mesmo aquela do faqueiro de sua cozinha supera a pequena lasca de pedra em diversos quesitos.
O naturalista primitivo não irá hesitar em classificar a rústica lasca de pedra amolada como um recurso de sobrevivência, logo, aquela é sua lâmina de sobrevivência. Claro que falamos de opções, teorias e estudos e este exemplo foi ilustrativo, um praticante de artes do mato com uma visão mais hardcore de certo sequer irá considerar a delicadeza e o cuidado do manuseio de uma lasca de vidro como opção.
Cody Lumdin usa uma simples faca utilitária marca Mora 1, pendurada no pescoço, como faca de sobrevivência. Josef Teti por sua vez usa uma longa e bruta faca, com quase meio quilo em seu conjunto completo. A polêmica pergunta é o que é uma lamina de sobrevivência? Melhor ainda, o que é cutelaria de sobrevivência?
A pessoalidade das informações cada vez mais me obriga a estudar e elaborar minha própria concepção do tema, muito embora, eu leve muito em consideração autores que seguem um estilo similar ao meu. Quando me refiro a autores, falo das pessoas que opinam sobre o tema nas linhas de pesquisa que eu frequento, foruns, youtube, e comunidades relacionadas e que possuem seguidores que opinam em suas postagens.
Sobre a consistência, ou linha de estudo pessoal qualifico ou desqualifico informações, como no caso da pá.
Uma fabrica nacional produz uma mini pá de jardinagem simplesmente brutal, aço 1060 perfilado com 2,5 mm de espessura e um destes autores desqualificou a ferramenta como sendo um opcional na preparação para uma situação de sobrevivência em potencial, algumas semanas depois exibiu em seu canal uma mini pá dobrável, item útil de fato, mas não chega aos pés da pá de jardinagem em nenhum quesito, exceto uma diferença de 135 gramas de peso, a pá dobrável é delicada, feita de uma chapa fina demais de aço doce, que não sustenta fio de corte, sim, eu comprei uma para dar o meu pitaco e comparar, mas o interessante é a opinião dele que qualificava a pá dobrável como sendo uma pá "de sobrevivência". Ele está errado? Não!
Talvez a pá não seja um item que ele julgue ser prioritário ao ponto de se exigir brutalidade, assim como Cody Lumdin pensa da faca. Uns acreditam que faca só serve para cortar, outros pregam que deve ser um pé de cabra amolado.
Eu não sou um usuário de laminas que impõe usos extremos ao equipamento, na verdade não imponho usos extremos a nenhum de meus itens de sobrevivência, não os poupo, mas não os levo acima do que se propõe, trocando em miúdos, pra mim faca faz serviço de faca, facão de facão e machadinha faz o serviço de uma machadinha. Preparo e o estudo, como eu disse no inicio deste texto, diminuem drasticamente as chances de complicações em uma situação de sobrevivência e julgo um cidadão que, em uma situação de sobrevivência portando só uma faca, seja ela qual for, e desce a porrada na sua única ferramenta, um idiota completo.
"Sei exatamente quais são os limites de meu equipamento, por conta disso me dou ao luxo de bater, torcer, moer e detonar o item" Boa! Concordo! Mas como sobrevivencialista e também um estudante de sobrevivência, sei que nenhuma situação é ruim demais a ponto de não poder piorar, e acredite ter sua faca quebrada numa situação destas pode ser um belo aditivo de complicação extra.
Ter uma boa e robusta faca é uma garantia de não ficar na mão na hora da necessidade, não um passe livre para atitudes hardcore e sem fundamento prático e o mesmo vale para outras ferramentas, por conta deste meu ponto de vista, pessoal e inserido no universo de autores do tema no Brasil, não desqualifiquei a machadinha da guepardo como item de sobrevivência, e também não acho que deva haver uma métrica para uso do termo "Survival", já que vai de usuário para usuário, e tal atitude desqualificariam teorias comprovadas de sobrevivência, excluindo por exemplo Cody Lundim e sua Mora 1, Otzi e seu machado de cobre e até nossos índios (primitivos) com seus grandes cutelos de pedra lascada.
Todas as diversas variantes pessoais tornam as nomenclaturas variáveis, logo uma pá pode ser um item desejável porém dispensável para uns e incrivelmente qualificado para outros, onde sua avaliação é mais esmiuçada e complexa.
Voltando a polêmica machadinha da guepardo, ou até as facas de cabo oco, já que uso uma dessas como faca de sobrevivência, assumindo os riscos em troca de alguns benefícios, e dentro da minha experiência de formação escoteira, não vi fundamento prático, em uma situação real de sobrevivência, onde se faz necessário rachar um tronco de 12 polegadas ao meio, ainda assim, se esta fosse uma condição qualquer, como uma daquelas inéditas ameaças não listadas que força um sobrevivente a gastar energia valiosa, eu usaria cunhas de madeira e o martelo da machadinha ao invés da torção simples do cabo gerando uma óbvia ameaça de quebra para qualquer ferramenta, não só a guepardo.
Logo, o estudo do sobrevivencialista exige alguma prática em ambiente simulado, para saber medir as informações, as possibilidades e até qual é o seu "estilo" aplicando seus esforços no que julga serem as respostas, ou contra- medidas para as ameaças que irá enfrentar pelo caminho, e acho que a regra para cutelaria de sobrevivência é "Não há regras", não há verdades pétreas ou condições regradas de uso enquanto os seres humanos forem diferentes, e, exceto que você seja membro de alguma corporação que exija o uso de um ou outro equipamento, enquanto civil, tem total liberdade para exercer sua pessoalidade, opiniões e aplicações.
Lembre-se, suas opiniões são muito valiosas para este autor e para todos que acompanham o blog, não deixe de dar seu ponto de vista nos comentários!
gostei do artigo não sou nem um expert em situações de sobrevivencia pelo contrario sou até "leigo" conheço algumas coisas mas teoricamente, mas concordo plenamente com voce quando diz que a ferramenta seja ela uma faca uma pá ou mesmo uma machadinha, deva ser robusta e aguentar o tranco por assim dizer se for lhe exigido ao maximo.
ResponderExcluiré como um atleta que treina o ano todo pra correr por apenas alguns minutos, com todo seu treino ainda podem lhe ocorrer situações complicadas.
assim tambem são com os equipamentos de sobrevivencia penso eu...
mto bom batata, eu acho q vc ilustrou bem e concorto plenamente com vc não existe uma regra que possa definir um equipamento, isso vai mto do operador e da condição que ele se encontra.
ResponderExcluirÓtimo texto amigo,
ResponderExcluirRealmente quando falamos de instrumentos de corte existem muitas variáveis que no fim são decididas de acordo com o gosto de quem vai utilizar o equipamento. Creio que a partir da perspectiva sobrevivencialista temos de buscar por itens de qualidade e que aguentem usos extremos (mesmo que sejam em casos de crise e isolados), afinal, eu não me sinto confiante em depender minha vida de uma lâmina de sabe-se lá deus a procedência do material dela.
Abração!
O assunto é mesmo polêmico! Meu pai, hoje com 70 e algos, como chefe escoteiro usava uma duplinha da Tramontina de faca e canivete e isso somado ao machadinha e ele diz que não precisava de mais nada. E acho que esse trio é difícil de bater, Nessmuk deu a dica e a prática provou. Mas é que existe uma infinidade de lâminas e para quem é apaixonado por elas então é um problema. Oque eu acho se assemelha a a opção do Batata: cada ferramenta para o seu uso determinado mas gosto de portar uma faca resistente (4 mm ou mais), com um bom pomo e peso razoável, com uma minima capacidade de torção, fulltang e fio resistente, tudo isso para o acaso de ela se tornar a única ferramenta disponível e a necessidade do improviso for maior que a de cuidado com a ferramenta. Resumindo: 3 facas um machado uma serra. E que uma das três facas seja algo na linha da BK2.
ResponderExcluirBatata, ótimo texto, olha como é pessoal essa coisa, pra mim que não sou nada survival, um bom e pequeno canivete suíço, modelo Camper, dá conta do que preciso no meu dia-dia. Será que estou sendo simplista demais... Um abraço
ResponderExcluirTambém ficaria mais seguro em ter um equipamento mais robusto para que, se precisar usá-lo, em caso de emergência, eu sei que possa abusar sem o "medo" e a iminência de perdê-lo. Concordo que cada ítem deva ser usado em sua função. Com uma BK-2 posso executar batoning? sim! Mas uma machadinha é justamente feita para essa função, porque abusar da bk-2 (ou outra lâmina qualquer) ? Mas se perder a machadinha por qualquer motivo, sei que a bk-2 daria conta. O mundo das lâminas é infindável e cada um deve buscar aquilo que dê conta das suas necessidades (previstas ou nem tão previstas assim).
ResponderExcluirGostei das "3 facas, machado e uma serra", é o suficiente e busco exatamente esse "combo", mensurando o que seria melhor para as minhas necessidades, provavelmente terei algumas mais, por gostar de facas, mas as boas facas são caras e inviabilizam a compra de mais uma série de equipamentos que precisaria, segundo minhas necessidades e previsões.. Ótimo texto!
voce manja mesmo eu concordo com tudo principalmente com oque voce falo sobre que voce usa uma faca de cabo oco que se nao me engano voce usa uma commaderII eu tenho uma tambem e mesmo esse aspecto que voce falou ela e bem grande e se quebrar voce pode pegala na mao e segurar a lamina mesmo mas e dificil dela quebrar no maximo ela afloxa um pouco o cabo, parabens pelo seu trabalhoo continue assim abraço
ResponderExcluireu sou suspeitaço, porque amo facas poderosas (grandes, largas e grossas), como a BK 9, a Busse (tem o Jr knives que faz excelentes versões delas aqui no BR, veja na minha blogroll), então é complicado...
ResponderExcluirPessoalmente hoje tenho um clone da Ka-Bar Marine 1217, so que formato tanto, da nautika (baratinha e boa, paguei coisa de R$ 50,00), 2 facões (12 e 14"), e quero comprar uma machadinha e um par de ka-bar becker, a bk2 e a bk9.
Além dessas, tenho uma faca de caça, com perfil skinner, um canivete buck 4442, que não sai do meu bolso, um victorinox spartan, uma peixeira carbono tramontina e mais algumas que eu mesmo faço com mola de fusca, serra e disco de arado (nem sei quantas tenho mas posso fazer sempre que quiser).
Sou partidário do quanto mais melhor, desde que isso não quebre o porquinho das economias...
Abraço e otimo post!
Victor Fox
Gosto muito daqui e esse artigo ficou muito bom!
ResponderExcluirUm pitaco que poderia dar seria o de fazer postagens com maior frequência. Sei que deve ter outras coisas a fazer, mas esse post demorou hein...desde 19 de Junho não havia postado nada.
Assim fico muito ansioso!
Batata como sempre revolvendo assuntos polêmicos, sempre teremos os adeptos das facas brutas, os simplistas, e os metódicos, eu vou pela ultima linha tenho uma faquinha tramontina Amazonas a 20 anos e fora a ponta um pouco torta por abusos ela me serve muito bem, canivetes bem afiados para cortes e entalhes e para coisa mais bruta eu também estou a procura de uma machadinha boa e barata pois bonita não precisa ser hahaha um grande abraço e parabéns por mais essa matéria.
ResponderExcluirEssa parte de lâminas é sempre cheio de controvérsias. Aqui quando saio para mato sempre uso um facão bem forte, que serve para quase tudo no meu ambiente. Mais é claro que quando saio para cortar lenha o dia toda para minha casa, não levo, e sim um machado.
ResponderExcluirCada caso é um caso, gostei da postura como colocou o uso de uma faca sozinha como utensílio de sobrevivência! Parabéns!
Tem que descer porrada na faca ué. Todo mundo desce porrada, eu desço porrada na faca no mato.Pra q ter frescura da faca. Vai deixar de sobreviver no mato por causa de frescura da faca? tem que descer porrada na faca.Já quebrei três moras e não tenho frescura de descer porrada na faca, no mato é assim mesmo.
ResponderExcluir