Criadas desde 7000ac pelo homem, caprinos são uma cultura forte e resistente com amplas potencialidades, você pode cria-las em seu quintal, podem ser criadas em confinamento como o gado, ou soltas e precisam do mesmo espaço que um simples cachorro para serem felizes, porém o avanço das fazendinhas urbanas pelo mundo tem gerado MUITA encrenca.
Alguns preparadores tem levado bem a sério a questão da autossuficiência, eu sou um deles, quem acompanha o Guia já esbarrou em algum momento em nossas conquistas e postagens. Embora nossa casa fique em uma cidade do interior, moramos em uma área urbana, um bairro como outro qualquer. Desde que começamos recebemos 8 vezes a visita da prefeitura. Uma por causa dos coelhos, 4 por conta das galinhas/galo, 2 por causa de árvores e uma por conta da captação de agua.
Parece engraçado mas não é.
A presença de animais não convencionais em áreas urbanas incomoda muita gente, e vou além, a falta de conhecimento ou simplesmente interesses pessoais tornam tudo mais difícil ainda pra quem fez a opção de criar e plantar em casa. Uma simples árvore em seu quintal pode ser motivo de rusga.
Eu tenho cerca de 20 árvores frutíferas em uma área de 360 m2, a metade já produz. Mantenho estas árvores podadas para controlar a produção e garantir espaço para as demais. Uma malha de arame vive carregada de abóboras e uma enorme parreira de uvas está se formando. A algum tempo, por pura observação percebi que meus coelhos simplesmente piravam quando encontravam um tipo de planta, uma forragem muito comum na região, então, dediquei alguns canteiros para esta planta, um tipo de urtiga local, confesso porém que quem observa o local só enxerga mato nascendo entre os pés de fruta. O maracujá cujas sementes lancei num vaso alto já cobre o pergolado de 7 m2 e faz sombra na porta da oficina carregado de flores e frutos.
Eu acho isso muito bacana, e basta encontrar um pote, balde, lata ou qualquer porcaria que sirva de vaso para que eu plante algo. Acontece que meu vizinho não está nem aí pra isso.
A bagunça das galinhas quando acham arroz ou botam ovos pela manhã incomoda. A sombra do pé de amoras gigantes tapa o sol de sua janela por sobre o muro. Coelhos podem causar doenças, captar agua que não seja da sabesp é perigoso e ele investiu demais no imóvel para ter um vizinho do lado desvalorizando tudo com estas idéias estranhas, afinal, quem vai querer morar ao lado de um cara que pendura todo e qualquer tipo de lata velha na parede? Sem contar a passarada, imaginem um oásis no deserto, é assim que os passarinhos vão ver sua casa na cidade. Frutas, mudas frescas na horta, um resto de ração de galinha no chão, filhotes de coelho dando sopa, de corujas a pardais e pombos, o fluxo de aves aqui é enorme.
Bom, daí vem as denúncias. Os interesses dos vizinhos não batem com os seus.
As cabras, chegaram na vizinhança faz 4 meses, são 3, duas fêmeas e um macho, são de raça pequena e vivem a umas 4 casas da minha, em confinamento. Uma ou duas vezes por semana o dono e seus filhos saem de casa com os bichos e os levam pra andar/pastar em terrenos baldios. Se vocês acham que nós aqui recebemos denuncias demais, não faz ideia do que passa este companheiro. Ele tem um terreno só pra criar galinhas e as cabras, abarrotado de pés de mamão. O terreno por pura infelicidade é baixo e no centro do quarteirão, logo, quando a dona do sobrado ao lado abre sua janela, ela vê as cabritas lá, de cara.
Amigos, acreditem, eu acho o máximo saber que outro colega está investindo em sua subsistência aqui bem perto, mas a grande maioria das pessoas não está disposta a isso. Conheço o ditado de que boas cercas fazem bons vizinhos, e por mais que se tente impor barreiras que impeçam nossa prática de incomodar os demais, em algum momento o galo vai cantar, um pardal vai querer fazer ninho perto da comida, a sombra de uma árvore vai tapar a janela que deveria receber sol e o cheiro da composteira vai se espalhar quando você estiver remexendo o substrato.
Os vizinhos alegam que lugar de fazendinha é no meio rural, e existem leis que garantem isso, os fazendeiros urbanos por outro lado exercem seu direito de criar os bichos que quiserem como sendo de estimação e prefeitura nenhuma vai tomar o coelhinho de uma criança. A verdade mesmo é que uma casa urbana que começa a alcançar um certo nível de produção vai de uma forma ou de outra interferir no meio em que se encontra em algum momento e confesso tem dia que é dureza tolerar o trinca ferro apaixonado piando na área as seis e meia da manhã.
No fim das contas, ser um sobrevivencialista urbano é quase como ser um guerrilheiro, sitiado por todos os lados mesmo sem uma crise aparente, o que importa é sermos persistentes e tentar ações para manter bons vizinhos na medida do possível.
Abraços.
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