terça-feira, 4 de novembro de 2014

Um olhar pessoal sobre bushcraft



O que existe são praticantes de bushcraft. Eu camelei muito neste meio até chegar a esta conclusão. Não é importante você tentar definir o que é Bushcraft, o importante é que você se defina antes como praticante. Agora eu quero falar do Ray Mears, sim o gorducho é foda. Embora não seja o criador da terminologia, suas publicações de TV, livros, etc motivaram centenas de praticantes. Não vou me focar em suas publicações recentes, mas nas mais antigas, que o deixaram de fato famoso.


Prestem atenção nisso, uma mochila, um cantil, uma boa faca, pederneira e o sempre presente machado, um kit de cozinha e um impressionante e vasto conhecimento de fauna e flora. Logo que vi o trabalho do cara me identifiquei, óbvio, eu sou escoteiro, depois chefe e ao contrário do que muitos pensam, chefes são menos praticantes de camping do que gostariam, são instrutores basicamente e seu oficio é cuidar das crianças. Eu vi no bushcraft do Ray Mears algo que eu poderia fazer, enfim aquilo era um tipo de escotismo solitário, era a prática pura, e fora os conhecimentos de flora e fauna, o que aquele cara faz, eu também faço. Eu já trazia muitas disciplinas agregadas, fazer fogo, amarras, nós, pioneirias e por coincidência o gosto por machados.

 " Sempre Alerta", " Estamos preparados" me levou ao sobrevivencialismo urbano, mas aquilo seria o passe, algo com nome que me levaria novamente a formar uma patrulha de um cara só. Naquele momento eu tive minha primeira pré definição pessoal de bushcraft. Andei (e ainda ando) pela minha região fazendo estudos de fauna e flora, conheci velhos, caboclos, caçadores, sitiantes, gente do mato. Na boa, eu não aprendi o básico com ele (Ray), lapidei umas coisas e experimentei outras. Bem ali na internet um mundo se formava. Pouco antes disso eu descobri que o que eu fazia em casa era sobrevivencialismo, o que fazia no grupo era escotismo e o que fazia nos campos era bushcraft. A sobrevivência entrou no meio disso tudo, afinal, se quer se aventurar em segurança você PRECISA saber operar um kit de sobrevivência, tem gente me esperando em casa pô. Lá estava o Ray, também falando do tema, mais um exemplo que sua definição é completa, ele motiva os praticantes a bushcretiar e os mantém vivos se algo der errado durante isso."Hoje nós vamos ver como o antigo povo da Finlândia vivia, mostrar sua rotina e como suas técnicas e meios são úteis para...." Opa! Lá estava ele, resgatando história local de um povo antigo, misturando coisas medievais com pré históricas.

Note algo aqui, não é mais estender uma lona, fazer um fogo, colocar a panelinha hi tec do kit de cozinha ali pertinho pro pão de caçador assar enquanto se pesca a janta no anzol e curtir o fim de semana. Neste ponto eu já me relacionava com outros caras. A prática do bushcraft subiu um degrau, pra mim, começou a envolver artesania, artesanato natural, história. Óbvio, se você entende como o povo antigo de uma região vivia, vai elevar o seu nível de conhecimento daquela região, as ferramentas, utensílios, macetes, porém, você não pode enfiar o pé na porta do museu, pegar aquela ponta de pedra ou faca de silex pra testar, se quiser isso meu chapa, você vai ter que fazer uma, e você pensa, bom, se aquele índio pré histórico fazia, pra mim é mole. Só que não. Você não acorda pela manhã e diz, agora sou um artesão. Note que neste ponto houve uma alteração de QUEM EU ERA como praticante de bushcraft.

Como sobrevivencialista, colocar a panelinha no fogo, usar as ferramentas, faca, machado era prática comum, a primeira onda RAY MEARS simplesmente se fundiu ao escotismo e sobrevivencialismo, e sabe como percebi isso? Eu montava meu campo quase que automaticamente, mecanicamente, lona , barraca, agua, fogo, metia a comida no fogo e ... largava tudo lá pra não perder tempo. Ia atrás de iscas, madeiras diferentes, pedras. Olhava as moitas, o alto das arvores, as nascentes, pra cada detalhe eu buscava entender como aquilo funcionava e perdia horas na artesania. Isso mesmo. Eu tentava reproduzir as coisas que ia descobrindo, colheres, pratos e tijelas de madeira... eu via amigos meus numa evolução absurda, reproduzindo cintos em couro, kits primitivos, lascando pedra... hahhh lascar pedra... lascar com arte, não rancar uma chapa que corta, isso é facil...

Não sei se você teve saco de ler até aqui ou se tinha algo melhor pra fazer, escrevi tudo isso para mostrar o como o MEU perfil de praticante mudou. Lá no inicio eu sentava, olhava o fogo, cuidava da chaleira cheia de café, aquele bifão churrasqueado e o cheiro se misturando ao cheiro de mato molhado, isso era bushcraft pra mim, me definia como praticante a ponto de me fazer DEFENDER por este ponto de vista, defender o Ray Mears. Hoje, eu pulo 90% do material publicado neste estilo, não me interessa mais a panelinha de alguém assando um pão, ou "faca para bushcraft", ou "como acender uma fogueira", assisto alguns, mas não tudo, a minha panelinha fica lá, muitas vezes largada no fogo baixo pra demorar mais e não queimar meu rango enquanto eu me corto, me furo, tenho 1943 fracassos tentando entalhar um garfo numa madeira desconhecida só pra ver se funciona. Se funciona ótimo, resta deixar bonito, liso... arte, arte de artesão, arte do mato. Isso depende de talento e tempo pra prática nem todos os tem, o Otzi tinha, o Índio primitivo tinha, Muitos caras atuais, simplesmente tem talento, nasceram pra ser artesãos, se destacam em couro, pedra, pau, osso, fauna, flora, experiência, estudo. Outros tem grana, e compram pra usar o que os caras que tem talento produzem. Não, não tente definir o bushcraft, ele não existe ou até existe demais, o bushcraft de cada um.

Defina-se como praticante, se quiser, até dê um nome ao seu estilo atual, mas cara, não faça inimigos por conta disso, mesmo completamente inserido hoje no que você acredita ser a sua prática, sua definição, amanhã, junto com o sol, uma nova concepção nasce e vc pode se pegar com uma clava, uma tanga de couro jogando lambarí fora dágua no tapa. Se te interessa, eu divido meus estudos muito bem, preparação, sobrevivencialismo, sobrevivência e bushcraft, nunca virei a cara pra mim mesmo ou deixei de falar sozinho feito um velho resmungão por conta de crise entre as disciplinas. Confesso, a câmera ajudou, agora falo menos sozinho e mais pra vocês...

Acho que os que entenderem esta linha de pensamento, talvez possam curtir meu novo projeto, totalmente voltado para este segmento, o canal "Um velho escoteiro" esta chegando, livre de tudo, e comprometido com o meu aspecto de praticante.

Até mais.

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